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RAPPER I.A. : FK MEKA E A MENTALIDADE LIXO DO MAINSTREAM


Durou pouco o primeiro contrato de um robô cantor, ou seja, o primeiro rapper de inteligência artificial criado pelo mainstream musical.


Menos de dez dias após anunciar que tinha fechado negócio com um rapper robô que tem mais de 10 milhões de seguidores no TikTok (com grandes empresas do marketing de luxo para inflar esses números claro), a gravadora Capital Records não só voltou atrás, como pediu desculpas publicamente. Motivo: o artista estava sendo cancelado nas redes sociais.


O anúncio do contrato foi amplamente divulgado. FN Meka seria (foi) o primeiro artista de realidade aumentada a assinar com uma grande gravadora.


O robô, que parece um ciborgue negro (ta mais pra amarelo na minha visão), foi criado em 2019 por Anthony Martini e Brandon Le, os cofundadores da Factory New, que se define como a "primeira empresa de música de última geração, especializada em seres virtuais".


Com mais de um bilhão de visualizações (inflados artificialmente por muita grana que muita gente nunca terá acesso), Meka é o principal "ser virtual" do TikTok. Seu primeiro single, "Florida Water", uma colaboração com o rapper Gunna, foi parar no topo da lista da Billboard (que para nós artistas brasileiros é como ganhar 1 milhão no banco imobiliário). Vale anotar que embora seja dublado por um humano anônimo, Meka e sua música são baseados em inteligência artificial.


Para Anthony Martini, Meka, que é o resultado de milhares de dados compilados de videogames e mídias sociais, poderia ser o futuro da indústria da música.


"O antigo modelo de encontrar talentos é ineficiente e não confiável. Requer gastar tempo vasculhando a internet, viajando para shows, voando para reuniões, gastando recursos em busca da combinação mágica de qualidades que podem se traduzir em um ato de superstar. Mesmo com todas as gravadoras dedicadas a encontrar talentos, a taxa de sucesso é lamentável de 1%. Agora podemos literalmente criar artistas personalizados usando elementos que comprovadamente funcionam, aumentando muito as chances de sucesso. Mesmo que possamos chegar a 2% de taxa de sucesso, dobramos o padrão da indústria", disse (e perceba o raciocínio dos membros dessa indústria miserável que presa pela fabricação da arte e não pelos artistas em si).


A Capitol Records anunciou o contrato como "uma prévia do que está por vir". Mas tanto o uso da letra N (uma referência ao termo "nigger", um insulto com fundo racial !) quanto um post no Instagram em que Meka é espancado por um policial na prisão pegaram mal (ou seja o branco burguês preda sobre as dores e mazelas sociais do oprimido e ainda acha isso engraçado ou caricato).


Quem se mobilizou contra o acordo foram os ativistas do grupo Industry Blackout, que chamou a atenção para o envolvimento do rapper Gunna no single. Bateram pesado:

"Enquanto aplaudimos a inovação em tecnologia que conecta os ouvintes à música e aprimora a experiência, encontramos falhas na falta de consciência de quão ofensiva é essa caricatura. É um insulto direto à comunidade negra e à nossa cultura. Uma amálgama de estereótipos grosseiros, maneirismos apropriados que derivam de artistas negros, completos com insultos infundidos nas letras".


E continuaram:


"Esta efígie digital é uma abominação descuidada e desrespeitosa com pessoas reais que enfrentam consequências reais na vida real. Por exemplo, Gunna, um artista negro que aparece em uma música com FN Meka, está atualmente preso por fazer rap com o mesmo tipo de letra que esse robô imita. A diferença é que seu rapper artificial não estará sujeito a cobranças federais por tal. Para sua empresa aprovar isso mostra uma séria falta de diversidade e uma quantidade retumbante de liderança surda, isso é simplesmente inaceitável e não será tolerado."


E mais:


"Exigimos que esta parceria seja encerrada, um pedido formal de desculpas público seja emitido, a FN Meka seja removida de todas as plataformas. Além disso, todo o dinheiro gasto pela Capitol Records e Factory New para este projeto será alocado para organizações de caridade que apoiam diretamente a juventude negra nas artes, bem como orçamentos de marketing para artistas negros contratados pela Capitol Records".


Ao anunciar o fim de qualquer vínculo com o robô, a gravadora acrescentou um pedido de desculpas formal:

"Oferecemos nossas mais profundas desculpas à comunidade negra por nossa insensibilidade em assinar este projeto sem fazer perguntas suficientes sobre equidade e o processo criativo por trás dele. Agradecemos àqueles que nos procuraram com feedback construtivo nos últimos dois dias —sua contribuição foi inestimável quando decidimos encerrar nossa associação com o projeto."


CONCLUSÃO:

O mainstream é liderado por pessoas burguesas, com uma mentalidade fora da realidade cotidiana das dores de qualquer minoria sofredora de opressões, e a cada década que passa trabalha para sucatear a necessidade da persona artística, buscando dominar mais e mais processos que torne dispensável talentos reais, artistas inspirados, humanos, para que eles possam maximizar os lucros, entupir suas contas de cifras inimagináveis para 90% da humanidade e intoxicar a sua alma com o máximo de poluentes pseudo artísticos. FN Meka é o exemplo perfeito desse horizonte sombrio delineado pela indústria musical.

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